Gosto muito de um provérbio chinês que diz: “toda grande mudança começa com o primeiro passo”. Isso resume bem o processo de construção de vínculo com nossas crianças. Partindo do contexto em que elas estão inseridas, o que ouvem, sentem e observam vai constituindo suas crenças sobre o mundo. Ao longo da infância, transmitimos a elas nossas próprias crenças, gostos e preferências, que influenciam seu modo de compreender o certo e o errado.
Conhecendo a criança:
Enquanto professora, sempre me pergunto:
- Quem é essa criança?
- O que ela gosta?
- O que a deixa animada?
- Do que ela não gosta e por quê?
A partir das respostas a essas perguntas, começa o processo de construção do vínculo. Ele se dá de formas diferentes dependendo de como a criança se apresenta – tímida, introspectiva, falante ou curiosa.
Observação e diálogo:
Para compreender o que cada criança gosta ou não, usamos algumas estratégias:
- Observá-la em diferentes momentos;
- Conversar com a família;
- Perguntar diretamente à criança sobre suas preferências;
- Não subestimar as crianças;
- Trocar informações com colegas que também interagem com ela.
Essa visão do todo permite uma comunicação mais respeitosa e afetiva, essencial para todas as crianças, sobretudo as com autismo.
Respeitando a individualidade
Algumas crianças adoram carinho e pedem colo espontaneamente. Outras demonstram desconforto: sensibilidade ao toque, medo ou necessidade de se afastar. É fundamental compreender que cada criança é única.
O autismo está muitas vezes ligado a questões sensoriais; sons, cheiros, texturas e movimentos que para nós são naturais podem ser desconfortáveis para elas. A criança demonstrará seu conforto ou desconforto por meio de expressões corporais, comportamento (fugir, se esconder) e até verbalmente. Sempre respeite a vontade da criança, se ela deseja abraçar ou não.
O vínculo se constrói com afeto e respeito
O vínculo se constrói de forma constante, por meio de observação, afeto e respeito. Ao demonstrarmos interesse genuíno e atenção à individualidade da criança, abrimos a porta para aprendizado, autonomia e desenvolvimento emocional.
É comum ouvirmos que crianças com autismo apresentam hiperfoco, seja em uma atividade, jogo, brincadeira, música, letras, personagem ou animal. Muitas vezes, pais e professores ficam receosos e pensam que devem “retirar” o hiperfoco da criança. Minha experiência aponta para o contrário: é fundamental partir do que a criança gosta e conhece, pois o novo representa sempre o maior desafio (rigidez cognitiva).
Estratégias afetivas e educativas
Como usar o hiperfoco para estimular autonomia e aprendizagem?
- Faça combinados usando os interesses da criança.
- Por exemplo, se a criança ama dinossauros, você pode:
- Decorar a sala ou um espaço com dinossauros;
- Criar músicas, histórias ou brincadeiras com dinossauros;
- Gradativamente, apresentar outras propostas com menos ou nenhum dinossauro, à medida que a criança se sente segura.
O hiperfoco é uma forma da criança se sentir segura naquele ambiente. Retirá-lo abruptamente pode gerar frustração e desconforto. Respeitar e usar os interesses da criança como ponte para novas aprendizagens torna o ambiente seguro, acolhedor e estimulante.
✨ E você? Como tem construído o vínculo com suas crianças? Compartilhe suas experiências, descobertas e desafios nos comentários. Vamos trocar afetos e ideias, porque cada passo é importante na jornada de crescimento e autonomia de nossas crianças. 💛