✨Falando sobre as emoções: raiva

Quando falamos sobre emoções com as crianças — especialmente a raiva — percebemos que muitas vezes os adultos acreditam que “são muito pequenas para entender”. Por isso, evitam abordar o tema. Mas o contrário acontece: abordar cedo as emoções ajuda a construir repertório, linguagem emocional e autorregulação.
Se pensarmos que a criança menor de 5 anos ainda está construindo atenção, linguagem, repertório emocional e experiências, os recursos tornam-se fundamentais: contações de histórias, livros com imagens, roletas de emoções e fantoches. Esses instrumentos ajudam a criança a observar as cores, as expressões, a sequência e aos poucos fazer a conexão entre “o que sinto” e “o que faço”.

As emoções

Além disso, se os pais, professores ou cuidadores não têm ainda desenvolvido seu próprio autoconhecimento ou gestão das emoções — como esperar que a criança tenha “maturidade emocional”? A TCC nos ensina que muito do aprendizado emocional vem pela modelagem: o adulto que gestiona sua raiva, verbaliza o que sente e o que vai fazer, ensina pela ação.
E ainda: para crianças com autismo ou neurodiversas, as estratégias precisam ser adaptadas — uso de suporte visual, rotina, linguagem simples, esquema visual.
Este post traz:

  • uma visão da raiva sob a lente da TCC;
  • estratégias práticas para crianças em diferentes idades;
  • adaptações para crianças com autismo;
  • ideias de atividades, livros e recursos para baixar.

😡 A raiva à luz da TCC

  • Na abordagem cognitivo‐comportamental, a raiva é vista como uma emoção natural, fisiológica, que surge diante de uma percepção de ameaça, injustiça ou frustração. O que conta não é somente o gatilho externo, mas a interpretação que a criança faz (“Não estou sendo ouvida”, “Isso é injusto”) e a resposta comportamental que se segue.
  • A TCC coloca atenção em três níveis: os pensamentos (como “Isso nunca muda!”, “Ninguém me escuta”), as sensações corporais (coração acelerado, punhos fechados, respiração rápida) e os comportamentos (gritar, bater, jogar objetos). Uma intervenção bem planejada ajuda a criança a reconhecer a emoção, parar e escolher uma resposta diferente.
  • Estudos encontram correlações entre déficit no processamento emocional e expressão de raiva/agressão em crianças. PubMed Para crianças com autismo, há evidências de que intervenções TCC adaptadas melhoram o controle de raiva. PubMed+2Onlymyhealth+2
  • Em resumo: a raiva não é “errada”, mas precisa ser regulada — e aprender isso desde cedo fortalece a saúde emocional.

🌟 Estratégias gerais para crianças

  • Valide a emoção de sua criança ao invés de ignorá-la: “Vejo que estás muito zangado. Tudo bem sentir raiva.”
  • Ajude a nomear, o que você está sentindo se chama raiva: use roletas de emoções, imagens, contação de histórias. Crianças com mais repertório identificam melhor o que sentem.
  • Ensine respiração ou pausa: por exemplo, “Vamos respirar 3 vezes juntos” ou “Vamos contar até 10 antes de falar”.
  • Modele: adulto que se acalma, verbaliza “Eu estou me sentindo zangado, vou respirar”, dá exemplo.
  • Combine limites e acolhimento: “Entendo que estás zangado, mas não podemos bater. Que outra forma podemos expressar isso?”
  • Use histórias ou livros: inserção de narrativa ajuda crianças menores a verem personagens que sentem raiva e o que fazem com isso.
  • Mantenha rotina, previsibilidade e ambiente tranquilo — menos gatilhos de frustração.

Estratégias adaptadas para crianças com autismo

  • Use suportes visuais: cronogramas visuais, símbolos para “pausa”, “respirar”, “falar”.
  • Identifique e minimize gatilhos sensoriais ou de mudança de rotina: barulhos, luzes fortes, transição abrupta.
  • Crie um “cantinho de acalmar” ou “zona de segurança” com estímulos sensoriais suaves, onde a criança possa ir quando estiver muito zangada.
  • Introduza pausas, intervenções estruturadas: usar contagem regressiva, técnicas visuais, usar fantoches ou história social para explicar “quando eu sinto raiva, posso…”.
  • Reforço positivo: elogie quando a criança consegue usar a estratégia ou comunicar antes de explodir.
  • Comunicação simples e direta: “Estou zangado porque…”, “Preciso de ajuda para…”. Ensinar frases prontas.

Dicas práticas por faixa etária

Crianças de 2 a 3 anos

  • Usar figuras grandes de “raiva”, “tristeza”, “alegria” para apontar e nomear.
  • Introduzir um livro simples (“como lidar com a raiva para crianças”) com páginas curtas, imagens claras.
  • Técnica de respiração curta: “Soprar como se estivéssemos fazendo bolha de sabão”.
  • Usar roleta de emoções grande, colorida, que a criança possa girar e apontar.
  • Adulto modelando: “Eu estou zangado, vou respirar”, e mostra-lo mesmo.

Crianças de 4 a 5 anos

  • Introduzir contagem até 10 ou contagem regressiva: “5…4…3…2…1” antes de reagir.
  • Usar história social: contar com fantoches ou livro “quando fico zangado, escolho…”
  • Fazer lista visual das opções de ação: “ Para me acalmar eu posso: saltar no trampolim / abraçar o ursinho / pedir ajuda”.
  • Validar mais: “Entendo que você fica com raiva quando não conseguimos ir ao parque”.
  • Uso da roleta das emoções: girar e perguntar “Qual sentimento escolho agora?” e “O que posso fazer com esse sentimento?”

Crianças de 6 a 8 anos

  • Ensinar respiração profunda: “Inspira 4, segura 2, solta 6”.
  • Imaginar lugar tranquilo: “Feche os olhos, imagina o parque, o cheiro da grama, o som do vento”.
  • Fazer exercício: “Quando eu sinto raiva, escolho 3 opções antes de agir”, ouvir uma música/cantarolar, fazer contagem regressiva de 100 ao 0, desenhar.
  • Atividade: desenhar como a raiva se sente no corpo (coração acelerado, punhos fechados) e o que pode ajudar a “acalmá-la”.

Crianças de 9 a 11 anos

  • Introduzir técnica de autorregistro: “Hoje senti raiva por causa de ____. Eu respirei e fiz ___”.
  • Desafio: “Minha meta esta semana: quando me zangar, contar até 10, e depois falar ou escrever o que senti”.
  • Introdução a auto-afirmação: “Estou zangado, e está tudo bem sentir isso, mas posso escolher agir com calma”.
  • Reflexão com pais/professores: conversar sobre o que ajudou, o que não ajudou, e ajustar plano de ação.

😀 Benefícios de trabalhar a raiva desde cedo

  • Crianças que aprendem a nomear e gerir emoções têm melhores habilidades de autorregulação, menos comportamentos agressivos e melhor adaptação social. PubMed+1
  • Para crianças com autismo, estratégias adaptadas reduzem explosões, melhoram compreensão das próprias emoções e aumentam capacidade de buscar ajuda ou usar estratégias. Onlymyhealth+1
  • Modelagem e ambiente emocional regulado pelos adultos favorecem o desenvolvimento emocional e relacional das crianças. Reframe Counseling Services

Baixa aqui as roletas: Emoções e O que fazer quando sinto raiva

💖 Dicas para lidar com a raiva nas crianças

🚫 Evite recompensas durante crises

Quando sua criança estiver tendo uma crise ou birra — chorando, se jogando no chão, gritando ou jogando objetos — evite recompensar ou barganhar.
Se toda vez que isso acontece ela ganha algo positivo (um brinquedo, doce, mais tempo de tela), aprenderá que essa é uma forma eficaz de conseguir o que quer.

👉 Em vez disso:

  • Valide o que ela está sentindo: “Eu entendo que você está bravo porque queria brincar mais.”
  • Dê espaço para ela se acalmar.
  • Garanta segurança — afaste objetos que possam machucar.
  • E, depois que estiver calma, converse sobre o que aconteceu.

🔍 Observe os gatilhos

Perceba quando e por que a raiva aparece.

  • Acontece sempre em determinado horário do dia?
  • Em momentos de frustração ou cansaço?
  • Quando há barulho, mudança de rotina ou negação de algo que ela quer?

🌱 Identificar gatilhos é o primeiro passo para ajudar a criança a se preparar e aprender novas formas de reagir.


💫 Transformar, não eliminar

Lidar com a raiva das crianças — e com o modo como nós adultos reagimos — não é sobre “eliminar a raiva”, mas sobre escutá-la, dar voz a ela e transformar o impulso em ação consciente.
Quando unimos recursos afetivos (livros, roletas, histórias) à prática da Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) e adaptamos conforme a idade ou o perfil da criança (como no autismo), oferecemos um presente de longo prazo:
✨ a capacidade de entender o que sente,
✨ pedir ajuda,
✨ pausar e escolher como agir.


📚 Comece com histórias e recursos afetivos

Crie um momento especial para “experimentar” o tema com a criança — através de uma história, leitura compartilhada ou brincadeira simbólica.
Esses livros podem ajudar:

📖 O Monstro das Cores
📖 O Novelo das Emoções
📖 Um Dia Mal-Humorado
📖 Rabugentos
📖 Ficar com Raiva Não É Ruim
📖 Vamos Lidar com a Raiva

💡 Você também pode usar as roletas das emoções que produzi para ajudar a identificar e conversar sobre os sentimentos de forma lúdica e visual.


🌼 Para pais e professores

Lembrem-se: o melhor professor é o exemplo.
Se você respira, nomeia, mostra o que faz com a raiva — a criança aprende.
O autoconhecimento dos adultos é a base do equilíbrio emocional das crianças.
Cuidar das próprias emoções é, também, uma forma de cuidar das delas. 💛

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