😬 Medo de ir ao dentista: compreendendo e acolhendo o olhar da criança

Para muitas crianças, ir ao dentista pode ser uma experiência assustadora.
O som dos instrumentos, o cheiro diferente do consultório, a luz forte sobre o rosto e a presença de alguém mexendo em sua boca — tudo isso pode gerar medo, especialmente nas crianças pequenas e nas crianças com autismo ou maior sensibilidade sensorial.

🧠 Por que o medo acontece?

O medo do dentista não é apenas “manha”.
Ele costuma estar ligado a fatores sensorialmente desafiadores:

  • sons altos e imprevisíveis,
  • luz intensa,
  • toques em regiões delicadas,
  • cheiros fortes de produtos odontológicos.

Para crianças pequenas, tudo é novo — e o novo pode ser ameaçador quando não compreendido.
Já em crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA), o medo pode ser potencializado pela hipersensibilidade a estímulos e pela dificuldade de prever o que vai acontecer.


👨‍👩‍👧 O papel essencial da família

A forma como os adultos lidam com o medo infantil faz toda a diferença.
O primeiro passo é dialogar com o dentista, comunicando:

  • que a criança sente medo,
  • como ela reage em situações novas,
  • se há hipersensibilidade auditiva, visual ou tátil.

É importante perceber se o profissional tem uma postura empática e respeitosa com a criança.
Nem todos os dentistas têm a mesma abordagem — e trocar de profissional pode ser a melhor decisão, caso a experiência esteja sendo negativa.
A criança é o termômetro: se ela demonstra temor excessivo, retraimento ou choro intenso, é sinal de que algo precisa ser revisto.


💬 Dicas práticas para acolher o medo

1. Converse com a criança — e nunca minta!
Evite dizer “vamos dar uma volta” e acabar no consultório.
Isso quebra a confiança e cria gatilhos de medo e insegurança.
Cada vez que ouvir “vamos sair”, ela pode reviver a sensação de ansiedade do dia do dentista.

2. Mostre o que é um dentista.
As crianças aprendem os significados das coisas a partir da forma como nós as apresentamos.
Mostre imagens, vídeos ou livrinhos sobre o tema e explique, com naturalidade:

“O dentista é quem cuida dos nossos dentes. Ele vai te ajudar a tirar o que está machucando.”

3. Explique o que vai acontecer.
Se for uma cárie, diga o que é.
Explique que o dentista vai usar alguns instrumentos e que pode doer um pouquinho, mas vai passar.
A sinceridade acalma — porque o medo do desconhecido é sempre maior que o medo do real.

4. Trabalhe a prevenção.
Ensine o cuidado com os dentes de forma divertida:

  • Mostre vídeos de personagens que a criança gosta escovando os dentes;
  • Use ampulhetas coloridas para marcar o tempo de escovação (como esta aqui);
  • Crie uma rotina visual com o passo a passo:
    1️⃣ pegar a escova
    2️⃣ passar o creme dental
    3️⃣ escovar por 2 minutos
    4️⃣ enxaguar
    5️⃣ limpar a língua
    6️⃣ passar o fio dental

Baixe aqui a sequência de escovação dos dentes que preparei utilizando os pictogramas da Arasaac:


5. Dê o exemplo.
Nada ensina mais do que ver os pais fazendo.
Escove os dentes junto com a criança, mostrando o movimento e celebrando o cuidado.

6. Use o brincar como recurso terapêutico.
Brincadeiras ajudam a elaborar medos.
O jogo de massinha Play-Doh Dentista (veja aqui) é um excelente recurso para representar o ambiente odontológico.
A criança pode falar sobre o que sente, expressar o medo e, aos poucos, ganhar confiança no tema.

7. Cuide do ambiente sensorial.
Se a criança tiver sensibilidade auditiva, leve um abafador ou pergunte ao dentista se ele dispõe de um.
Pequenas adaptações fazem grande diferença.


🌿 Ir ao dentista não precisa ser um momento de medo — pode ser um aprendizado sobre cuidado, confiança e escuta.
Quando a família se envolve com respeito e paciência, e o profissional acolhe com empatia, a experiência muda completamente. Cuidar dos dentes é também cuidar da autoestima, da saúde e da relação com o corpo.
E quando o medo é tratado com amor, ele se transforma em segurança — e o consultório passa a ser um lugar de encontro e não de ameaça. 💛

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